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Ponta-Cabeça

Quem disse que não existe rasteira capaz de derrubar
Um bamba de capoeira, estava meramente enganado.
Tesoura, arrastão, facada, meia-lua, golpe de estado.
O céu escurece, falta o chão, pisão, ésse-dobrado.
Procuro e não acho.
Rodopio. Agaixo. Caio.
O corpo desaba. Desmorona. Racha.
Coração dilacerado estirado num banco de praça.
Roda de mês já nem tem mais graça.
Minha corda puiu.
Meu acrômio luxou-se.
Meu escafóide, num chute, partiu.
Volta e meia e numa volta ao mundo, coice.
Pelas costas, pisão rodado, dentada, foice.
Meu berimbau até empenou.
Sua rija cabaça, gritando, trincou.
O arame, já marejado, estalou.
O Som, antes no tom, atravessou.
Hoje choro minha saudade pela sombra.
Olho pro escuro céu e peço ao meu Orixá uma luz.
Me ajoelho ao pé do berimbau.
Nem sei bem o porquê Sinal da cruz.
Me guia, ensina, conduz.
Meu Mestre me olha nos olhos e diz que isso acontece, que é natural.
E que, de milha em milha, é necessário, e arbitrário,
esticar o couro do atabaque,
para renovar as abatidas batidas e dar fôlego aos sufocados ares de meu oco peito.
Tô saindo da roda.
Minha mandinga, há muito, retirou-se antes de mim.
Meu jogo está preso, minha garganta seca, meu cantar triste assim.
Adormeço ao som distante dum velho e curtido pandeiro.
Estou cansado. Dolorido. Magoado.
Tua falta provocou-me um alarido.
Teus olhos nus se perderam de vista.
Perderam-se nus.
Sinto ainda o teu cheiro escorrendo em meu peito, porém, não o quero mais.
Não quero mais isso.
Sou egoísta.
Peço, por gentileza, que não insista.
Que não tente novamente me bandar.
Desista.
Eu já caí, não está vendo?
Fiquei de pista.
Berimbolei, durei, fiquei zonzo, desequilibrista.
Perdi a minha afinada pedra e, com gládios,
quebrei a imagem dos meus próprios sonhos.
Ponteira mirada e esticada, bem dada, na boca do estômago.
Meu peão nem quer mais rodar.
Meu martelo descruzou.
Minha armada desarmou.
Tô todo torto, todo errado.
Perdido.
Parado.
Tonto, no ponto, esperando o bonde passar.
Tô indo pra onde quiserem me levar.
Vida, leva eu, leva.
Mas leva pra bem longe mesmo.
Para que eu, sem esperança de um dia conseguir,
tente esquecer esse Amor que um dia tive e que um dia tive que deixar.
Ressucita-me.
Faça-me feliz novamente.
Deixa eu viver minha vida à nova mente.
Toma de mim meus pensamentos e sonhos.
Liberta-me.
Oh, Vida!!
Iêêê...

2 comentários:

Anônimo disse...

Cheio da mandinga... IêÊêêêê!!!!

Anônimo disse...

"A poesia é a música da alma." (Miguel Couto)