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Às Avessas

Procuro em todo canto algo no tom certo para por no papel.
A inspiração está desaparecida.
Nos tempos de hoje, Ela não mais dá as caras com tanta facilidade.
Poucas coisas, à deriva, do todo produzido pelo homem, Dela derivam.
Todos os que escrevem, escrevemos desprovidos dela,
por uns remotos tempos presentes.
Ela se foi.
Foi-se.
Foice...
Hoje, é preciso obter de tudo, a qualquer preço.
Terceiriza-se até a pobre, coitada e desnutrida inspiração.
Assim e aos poucos sopros, ela se esvai, vai-se.
As poesias apenas têm palavras grafadas noutra ordem.
Nada querem dizer. Nada dizem.
Aliás, tudo querem dizer, contudo, tudo ao mesmo tempo,
Distingue-se nada e subentende-se que nada têm a dizer.
Não é culpa dos escritores.
A culpa é do estado atual do comportamento humano,
que não conseguindo viver a paz,
num pequeno planeta desses como a Terra, acabam por corroê-la, gelando a espinha e apertando o nó no pescoço da infeliz Inspiração.
Os sensacionalismos mais bárbaros, os preconceitos e a falta de liberdade, gritam juntos, por aí, em nossa mídia, espantando a inspiração dos observadores que, além da mera observação,
não conseguem impedir-se de escrever algo a respeito do que vêem, seja lá com que gênero for,
mesmo que algumas tortas e ébrias palavras de afeto ou desafeto.
Precisamos fazer alguma coisa! Criar algo. Afetar-se.
Procura-se a tão pouco aclamada inspiração.
Como recompensa, o sorriso e a emoção.
Nada de mais interessante, esses dois aí, têm a dizer mesmo.
Então que, ao menos, sirvam de mercadoria escambótica.
Causa revolta, causam revoltas.
Venha, me dê a sua mão, Querida.
Eu não consigo mais terminar nada do que faço.
Sempre deixo por fazer, pela metade ou para trás.
Não concluo nada.
Não fecho ciclos. Não construo ninhos.
Não desempenho minhas atividades físicas, profissionais e espirituais.
O despertador, quase sempre, nunca funciona.
Chego atrasado em meus compromissos.
Estou triste e caduco sem você.
Preciso te reencontrar.
Encontrar-me.
Cadê você, Inspiração?
Venha me abraçar.
Quero você.
Quero cantar.
Quero mais.
Quero ler, ser lido.
Gravar um curta.
Projetar um longa.
Ter um livro, escrever um filho.
Venha, eu te espero.
Como colírio aos meus olhos,
Você fará novo e nitidamente o meu enxergar.
Venha, nem que seja nos meus sonhos, me beijar.
Sinto saudades.
Quero você por perto.
Ainda é cedo, amor.
Quero tudo.
Quero tudo dizer.
Tenho tudo a dizer.
Todavia, não digo nada.
Algo está faltando.
Estou órfão.
Parece que só expiro.
Suspiro.
Fico mudo.
Às avessas.



4 comentários:

Anônimo disse...

Tudo ao seu tempo, tempo seu.
Querendo tudo para que,projetar-se para onde?
Sabendo que os ciclos se fecham sozinhos, recomece afetar-se concluindo, tirando das metades a sua inteira verdade.
A todo tempo se inspira do nada, o muito oque ainda tem que ser feito.
Notar insatisfação no mundo, que não se tem tudo mas que muitos acreditam ter, é um dom que deveria ser estimulado para melhorar a vida de muitos, isso nada mais é que a tão aclamada inspiração, que provavelmente não anda perdida.

Anônimo disse...

Avessas...Paira a dor e nos silencia... quem com amor nos pronuncia...em seus corações há uma renuncia...gelado estão...queimados ficarão...

Anônimo disse...

pesnavida.blogspot.com do Amigo Psi André...

. . . .Filho da Poesia. . . . . disse...

Sempre me pego, do nada, às avessas...