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Procura-se

Em alguma esquina ou viela, na contramão,
Rio acima, à espera, à espreita,
Num canto, num beco, à margem, à beira,
Introspecto, encontro-me, de certa maneira,
Limpando de meu cérebro o mofo, a poeira,
Sacundindo meus ossos e
Redesvirando de cabeça-pra-baixo minha avessa cabeça,
À procura de minha paz.
Está por aqui, tem de estar.
Camuflada, escondida, sob destroços, dolorida, achada, perdida,
No meio do nada e mesmo que, de tudo um pouco, ferida,
Ela, contudo, por aqui deva estar, n’algum lugar.
Soube que ela queria se entregar, desistir.
Pular, sumir, fugir, se jogar, se partir, voar, ir.
Procurei, mas não a vi.
Se, por acaso, nela esbarrei,
Nem sequer senti.
Cadê você?
Está escuro.
Não lhe vejo.
Vem, segure firme a minha mão, amiga!
Você é minha.
Não vê isso não? Se liga!
Venha, vamos. Corra, querida!
Em minha vida quero, intensamente, usufruí-la.
Dar-te-hei flores, girassóis, um mar-de-rosas, margaridas.
O sol, o mar, oceanos, ilhas.
Às horas quero improvisar.
Nada de repetição.
Nada de dublê.
Quero ao vivo e à cores,
Numa fração do já,
Gozar o real prazer.
Experimentar paixões colhidas, na hora, do pé.
Sol brotando, passarinhos cantando, roça, mato,
Cheirinho fresco de café.
Observar, em contraponto e contrariado, que a moeda tem dois lados.
Sentir, na pele, os espasmos ao embeber absinto e ópio, mesclados,
Oferecidos com gosto e na bandeja, por sarcásticos.
Todavia, mesmo assim,
Nas frestas, na lama, na sargeta,
Continuar buscando.
Noutra casa, cidade ou planeta.
Em algum lugar creio que esteja.
Anseio acasalar com você,
Doce e almejada emoção.
Meu peito lhe pertence.
Meu cérebro,

hoje,
sobrevive em sua função.
Oh, paz!

Um comentário:

Anônimo disse...

"A obra de todo grande poeta é sempre um mistério que julgamos decifrar a cada leitura." (Josué Montello).