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FormAÇÃO x VerSOS x !nForm@ÇÃO

"Há uma relação entre a formação e a informação. Rigorosamente, nós só sabemos o que sabemos após recebermos alguns dados, algumas notícias que têm caráter informativo. (...) A formação depende da informação como o conhecimento intelectual depende do conhecimento sensível, embora não consista nele. (...) É claro que a cada dia precisamos de informações que nos ajudem a progredir em nossa formação. O mal da época, mal derivado da atmosfera nominalista e de informações, é que deixa no esquecimento o gosto e o desejo da sabedoria."
                                                                                                         Gustavo Corção

No período da infância, fase essencial do desenvolvimento social, o ser humano necessita e deve explorar ao máximo suas possibilidades criadoras, que têm e devem ser estimuladas por uma sociedade ativa e preocupada com a sua formação.

Devido à recente ditadura da comunicação e outros revés, culturalmente enfurnados na sociedade brasileira, influenciando as formações social, política, psíquica e física dos seus habitantes, estes ficaram sem identidade definida, sem opinião própria, pois, expropriados, não lhes fora ensinado, respectivamente, a tê-las e a formá-las.

Sabe-se que falta muita coisa para que melhore a condição social entre os seres vivos. Falta arte, música, tinta, palavras, brincadeiras, esportes, liberdade, amizade, poesia, afeto, interação, amor, união. Falta, acima de tudo, comunicação. As colocações e diálogos vêm sempre acompanhados por um pessimismo velado ou simplesmente por um complexo de sátiras, intrigas e ironias que, de nada exaltam qualidades, contudo, sempre defeitos e pequeninices, atrelados às abóboras que, por vezes pensamos, por outras explicitamos.

"Pequenas coisas só atormentam pequenas mentes..."

Essa visão pessimista, essa auto percepção desfavorável da sociedade, acontece sem que se dê conta, pois vem impregnada no inconsciente coletivo, perpassando gerações. O homem reage segundo valores formados em sua personalidade, ao decorrer de seu aprendizado de vida. Esses valores refletem formas que lhe foram ensinadas e moldadas.

Não se deve atribuir culpa às pessoas que cometem erros, seja lá em que grau for que os tenham cometido. Todo ser humano tem seus defeitos, suas qualidades. É formado ou deformado, informado ou alienado, assim, desde sua infância. Alguns não passam de meros joguetes da sorte, para os quais não tem ninguém nem aí. Qualquer pessoa dita mal-amada, ranzinza, chata, solitária, fofoqueira, maluca, mentirosa, falsa, ou ainda, qualquer dita criminosa, corrupta, traficante, indigente ou, mesmo, assassina, todas estas estão perturbadas de alguma forma. Cada uma, a sua maneira, foi mal formada e mal cuidada pela sociedade onde nasceu, cresceu e formou seus próprios valores.

Na verdade, não mais deve-se procurar culpados, todavia sugerir transformações e opções sensatas a serem analisadas, discutidas e postas em prática, para que se consiga realizar algo, a partir daí. Essas pessoas não têm consciência do que fazem. São monstros que só aparecem quando surtam e fazem algo de bárbaro e sensacional. Míseros coitados.

Que se aceite diferenças e procure aprender com o próximo a trocar conhecimentos, exaltar qualidades e sugerir melhorias aos defeitos certos. Ninguém melhora do nada, só ou isoladamente, contudo, bem amparado, acompanhado e orientado. Através de uma comunicação cada vez mais perspicaz e com melhores ferramentas para sua difusão, objetiva-se propor essa troca de idéias entre as pessoas, visando a transformação de forma consciente, objetiva e clara.

Voltando-se um pouco para a história, sabe-se que o Brasil foi colonizado em 22 de abril de 1500. Em 1808 surgiu a imprensa e em 1889 a escravidão foi, finalmente, abolida. Ou seja, 300 anos sem imprensa; 389 funestos anos de escravidão. Durante todo o tempo, observou-se um Brasil escravocrata, excludente e pouco atuante no que diz respeito às formações cultural, artística e educacional da população que, desde a catequizante colonização, perpassando negreiros navios e tilintantes senzalas, vem resistindo em meio a ditaduras e repressões, crimes e corrupções. Essa consequente crise social encontra sua causa na falta de cuidado com a formação do ser humano em sociedade, principalmente por parte governamental.

Cabe à Comunicação Social mostrar um novo mundo ao mundo. Aos formadores e educadores cabe a tarefa de levar aos alunos diversificados tipos de formação, que não meramente a teórica, por vezes hipócrita, aliando conhecimento humano à prática de artes e esportes, despertando além do raciocínio, a interação, formando, de fato, opinião.

Se é do homem a inteligência e se este reage, em boa parte, segundo o seu inconsciente, há de surgir uma nova comunicação, um novo conceito de vida, uma nova visão da sociedade, e, com o passar dos tempos, ficará comprovado que basta ensinar as crianças a arte de se bem-viver, formando e informando com afeto, amor e bons exemplos, teóricos e práticos que, na colheita da próxima geração, a sociedade se abastará de seus saborosos frutos da era.

"Não tenta capturar borboletas,
apenas cuida do teu jardim.
Num belo dia de sol,
quando você menos esperar,
elas virão até você"

Me perguntam se este espaço é destinado apenas para postagem de poesias, ao que, prontamente, respondo que sim e complemento dizendo que é destinado, sim, para todos os tipos de poesia. Afinal, a poesia está em todo o lugar, basta bem observar. Observe. Tudo tem ou pode ter poesia. Tudo é poesia. A poesia está nas pessoas, nas crianças, nas palavras, nos gritos, nas cores, sabores, nas literaturas, músicas, artes, seja lá em que arte for. E se, por qualquer acaso, houver alguma arte em que a poesia não esteja se manifestando, esta merece devido cuidado e reparo urgentes.

Sejam bem vindos. Participem. Interajam. Poetizem-se!

Réquiem para o Amor

Dissabor
Torpor
Desengano

Logo o mais nobre dos sentimentos entrou pelo cano

Escafedeu-se
Desencarnou-se
Está faltando

Erva-Daninha
Praga
Dano

Ódio
Intriga
Ledo e cruel engano

“Ainda é cedo, Amor
Mal começas-te a conhecer a vida”

Partiu o tempo da chegada
Chegou a hora da partida

É o ponto final
O fim da trilha

Agora é cada um pra cada lado

Parto de males
Partilha de bens
Último suspiro
Única saída

Desafeto vivido
Lágrimas
Cântico de despedida

Alvorada

Amanhã será sempre um novo dia:
De alegria, de reis, de circo.
Um dia de festa, de folia!
De lua cheia, de romance, de magia.
Dia de contação das estórias encarceradas na memória:
Caraminholas, derrotas, engasgos, verdades, glórias.
Um dia que entrará para a história.
O dia da decisão!
Da ação, do elo, da concórdia.
Dia de desfazer ledos enganos.
De compreensão, de trégua, de trocas de afeto, de união, de planos.
Dia de sorrisos, de bonança, de encantos.
Dia de poesia, de sonhos, contos e cantos.
Um dia claro, ensolarado, manso.
Dia de todos os santos
Amanhã!

Ato

Calar, ouvir, guardar as palavras para si.
Observar, ser todo ouvidos, analisar, fitar, refletir.
Auscultar somente o ecoar da voz no vácuo dentro do peito.
Concentrar energias, economizar defeitos.
Não ter palpite, opinião, ponto de vista ou algo a declarar.
Optar pelo silêncio, ainda que insista em falar.
Calar.
Ouvir.
Deixar o tempo atuar.

Sonho

Quero dormir esta noite e, pela manhã, acordar um novo homem, revigorado, disposto, sadio, reciclado.
Despertar. Abrir os olhos para o que estava todo o tempo em minha frente e eu teimava em não ver, não enxergar.
Levantar meu corpo, minha estima, meu olhar.
Me perceber, reerguer, amar.
Alongar a coluna, o espírito, a vida, o ar.
Dormir.
Relaxar tranquilamente.
Repousar.
Voltar a cair no sono, novamente, a pescar.
Quero sempre conseguir lembrar dos sonhos que eu tiver, daqui para frente.
Recuperar meu sono, meu ninar, meu presente.
Fechar os olhos, cochilar e ouvir meu próprio roncar, de repente.
Em meu sonho atuar, fazer parte do final de minha própria história, escrever e dar um basta a essa de deixar a vida me levar.
Deixar para trás as sombras dos pesadelos e medos que tive e tanto me fizeram madrugar.
Quero dormir contigo e acordar comigo. Quero dormir com os anjos.
Preciso sorrir, cantar, escrever um filho, amar, ter mais livros, mais encanto.
Decidir a hora de dormir e, enquanto acordado, permanecer acordado, traçar planos.
Estar em alerta e, mesmo dormindo, observando.
Manter a postura de todo modo ereta. Olhar para frente, adiante, seguir a seta do caminho que sua própria luz emanar.
Definir metas concretas ou incertas, arriscar.
Pisar firme.
Equilibrar meu andar, meu agir, meu pensar.
Tirar de uma vez esse peso dos ombros, largar de vez essa cruz que tanto atrapalha meu caminhar.
Aprender, enfim, a me amar, não aguento mais esse abandono, não mais me suporto, um dia, sequer.
Estou sem trono, sem sono, sem um pingo de sonho qualquer.
Nem bocejos vêm quando penso que não mais bem quer.
Estou sonâmbulo a me procurar, estou para o que der e vier.
Andei durante tanto tempo sonolento que nem me lembro se o mal me quer.
Quero dormir esta noite e sonhar que sou um novo homem, revigorado, disposto, reciclado...

Faces


Sereno
Impulsivo
Veneno
Antídoto
O amor é assim
Vai de vez ou vem para ficar
Embriaga ou torna ébrio o caminhar
Dá fôlego, tira o ar
Abandona, retorna
Lar doce lar
Há o contratempo da partida
Há também a hora da chegada
Tudo na sua medida
É longa a caminhada
Uma safra ressequida
Outra forte e abastada
O amor é assim mesmo
Ora some e te deixa
Ora dá as caras e te beija

Mais

"Mais, foi a primeira palavra que eu me repeti intensamente em minha infância: 'maise, mamãe, maise...'
Fosse guaraná, fosse coca-cola; fosse coca, fosse cola; fosse amor ou desamor ou qualquer outra espécie de dor.
Eu quero é mais ser imortal!! Quero ser o meu futuro ancestral.
Quero mais tabacaria, mais pessoa, mais maria, mais vinho, mais poesia..."

Angela Ro Ro


Palavras

Palavras rebuçadas na ponta da língua, prontas e prestes a serem ditas.
Palavras novas, puras, ressaltadas, ressaídas.
Nuas, cruas, verdes, recém-sabidas.
Caladas, cansadas, olvidas, doídas.
Doidas por encontrar logo uma saída,
Tornarem-se livres, soltas, exaradas, proferidas.
Propagadas “na glace de uma entonação lisa de adocicada...”
Chega de prostrarem caladas.
Parem de aceitar o engasgo, a interrupção, o nó.
Unam-se!
Venham todas de uma vez só.
- Palavras: Libertem-se!!
O Rio: poesia para Rosa

Nunca paro para descansar.
De meio a meio, me infinito os dias.
Em meu seio sertãneiam vidas, milhas.
De meu colo dependem croas e ilhas.
Sigo o meu rumo sem arrumo, solto-solitariamente, percorrendo oportunas vias.
Centrado, largo, estreito.
Redemunho, esquerdo, direito.
Sou de lua, de momento.
Sou de barro, de Janeiro.
Minhas águas, que não param, de março!
Ao céu, me divido, inundo, encharco, encho, tateio, acerto, acho.
Perco, érro, derramo, escôrro, transbordo.
Gotêjo, pingo, enuveio, evaporo.
Deserto, mínguo, séco.
No ao-longe, viro lama.
Mangue, alagadiço, pântano, breu: viro bréjo.
- Deus esteja!
Mesmo assim, questiono em fluir, caudaloso e sereno, insistindo por abrir caminhos sempre libertos:
- ora pro raso, ora profundos.
Às vezes bóio, inspiro, flutuo, nado.
Noutras péso, afundo, submêrjo, naufrago.
Mato minha sede com lágrimas.
Afogo saudades no esconço de meu leito.
Pedras brotam em meu caminho, e apesar de tanto bater, não consigo furá-las, em cheio, no peito.
De espanto, de esbarro, ando à procura de minha terceira margem, por entre clareiras, enquanto paus de árvore enormes insistem por encalhar às beiras.
Precipito, agito, côrro, socôrro, corredeiras.
Rio abaixo, Rio acima, grutas, cascatas, nascentes, foz, cachoeiras.
Rodamoinhos enormes, tororõmas, fervimentos, marés, nós, correntes, correntezas, turbilhões.
Trombas d’água, cheias, aguaceiros, enxurradas, tempestades, torós, enchimentos, ondulações.
Demasia das enchentes, tombos, tormentas, torrentes, subimentos, arrastões.
Lendas, sereias, mantimentos, tesouros, ventos, raios, relâmpagos e trovões.
Num fluxo indissolúvel:
- quero, logo, desaguar no mar!




Escuridão

Breu,
Falta de Luz,
Treva.
Contrastes mais Fortes,
Penumbras,
Silhuetas,
Guerra.
Falta de Iluminação,
De Calor.
Predominância de todo tipo de Sombra.
Pesadelos,
Betume,
Negrumes,
Insônia.
Luz Própria não se compra na esquina,
Não Brilha por Vontade Própria,
Não se Barganha.
Há de Tê-la ou não Tê-la!
Não se Arranja ou Ganha.
Se Tem.
É Nata.
Vem de Dentro o Clarume.
Na Noite, busco o meu Sol.
O Tato se Aguça.
Para Situar-me, Busco a Luz de um Farol.
Vejo Nada.
Não Vejo mais aquela Luz no Fim do Túnel.
Só essa Dura e Latente Escuridão.

Cão sem Plumas


A cidade é passada pelo rio
como uma rua
é passada por um cachorro;
uma fruta
por uma espada.
O rio ora lembrava
a língua mansa de um cão,
ora o ventre triste de um cão,
ora o outro rio
de aquoso pano sujo
dos olhos de um cão.
Aquele rio
era como um cão sem plumas.
Nada sabia da chuva azul,
da fonte cor-de-rosa,
da água do copo de água,
da água de cântaro,
dos peixes de água,
da brisa na água.
Sabia dos caranguejos
de lodo e ferrugem.
Sabia da lama
como de uma mucosa.
Devia saber dos polvos.
Sabia seguramente
da mulher febril que habita as ostras.
Aquele rio...


João Cabral de Melo Neto

Simples Poema

Quero escrever um simples poema.
Algum que não se prenda a codinome ou tema.
Breve, que facilmente se entenda.
Sintético, puro, nucléico, alma, gema.
Que apenas o seio do que pretenda dizer, contenha.
Que fale por si.
Que rapidamente se aprenda.
Sucinto, conciso, direto, resenha.
Qualquer que me compreenda.
Que seja logo.
Quero escrever um simples poema.

O Rei

Como pode um Rei andar cabisbaixo, triste, ao léu, à toa?
Sem rainha, sem castelo, sem corte, sem circo, sem coroa?
Onde está meu trono? Meu cajado?? Meu manto???
Meus navios, ferozes couraçados de robustos cascos,
Colidiram suas duras proas aos penhascos.
Minha tripulação está por um fio.
Meu exército, cambaleado, fraquejou na frente de batalha.
É como navalha que num dos gumes meu peito rasga e, noutro,
O leito de meu rio, de janeiro, talha.
Estou vulnerável.
Sem torre ou cavalos, escudos ou muralha.
Indefeso a ataques bárbaros e tecendo, com lágrimas de sangue,
Minha entrelaçada mortalha.
Todavia não para breve!!
Hei de voltar com toda a minha força,
E que para a forca o vento leve,
Se por acaso ou ironia,
Minha vida não quiser me pagar o reino que há tanto me deve.
Afinal de contas eu também sou Rei!!
Todos somos, cada um com o seu reino.
Respeite para ser respeitado.
Raios!!
E agora?
O que fazer??
Para onde ir???
Sei que preciso reunir minhas forças interiores,
Para, de cabeça erguida,
Reaver o que,
por direito,
é meu.
Recuperar o meu reino.
Enfim,
Que Rei sou eu?

Rei Nato TouzPin I



Os três

Estamos sempre juntos, os três:
Ela, a Rainha, nós, os Reis.
Em nosso formoso castelo habitam conosco
o Amor e a Alegria.
Unidos, adoramos mordomias.
Temos nosso jeito, preferências, manias.
Nossos momentos, agruras, iras.
Os três temos a mesma medida:
“calça de veludo ou bunda de fora!” - Lendário verso de família - demoramos para querer,
contudo quando quisermos tem que ser à risca, à hora.
Se não, esbravejamos nossos exércitos, conquistas, glórias.
O que entrou para a História.
Afiamos garras, gumes, espadas, esporas.
Todo o reino, de todo, se apavora.
Há te termos mais calma, sincronia, tino.
Juntos, os três: Eu, minha Rainha e nosso Pequenino.
Herdeiro do Trono, Príncipe, Patrono, Genuíno Nato.
O que Une e Divide o Amor de cada um de nós três.
Ela, a Rainha, nós os Reis.

Silênciar

Batimentos,
Respiração,
Pensamentos.
Papel,
Caneta,
Solidão,
Momentos.
Faltam emoções,
Cores,
Tempo.
Estou entregue,
Ausente,
Ao vento.
As palavras secaram,
Se foram,
Ficou apenas a palavra saudade - dos versos que me acompanhavam.
Minhas rimas e melodia partiram, abandonaram, deserdaram.
Minha inspiração está por aí,
Espalhada.
Meu coração, despedaçado.
Olhe onde pisa, cuidado,
Meus cacos estão espalhados pra todo lado.
Estou definhando.
Desafinado.
Sôo fora do tom, atravessado.
O compasso desalinhado.
Meu peito ilhado, sobrevivente, magro, pelado.
Mas meu cérebro atento, uno, ligado.
Escutando, do silêncio, o recado das poucas palavras que insistem em serem ditas,
Que estão engasgadas, que foram, à seco, engolidas.
Velhas dós encarceradas querendo gritar.
Deixar-me cifrar, soar, ecoar.
Encher-me de notas, timbres harmonizar.
Rés, mis, fás e sóis improvisar.
Mixar.
Cantar.
Declamar.
Ouvir-me.
Fugir da rima fácil,
Desmetrificar.
Sair do ócio.
Silenciar.

Sépia

Folhas Tesas,
Terra seca,
Sol,
Sertão.
Sede de chuva,
Fome de tons,
Secura, Solidão.
Somente cactos,

anunciando fartura,
Brotam, verdes,
solitários, do chão.
As borboletas, concentrando olhares e desejos,

Roubaram as cores da paisagem.
Dos fictícios mares adentram nebulosas e cinzentas saudades.
Ao longe, ao litoral, à terceira margem, ameaçam desabar tempestades.
Estou desidratado, desnutrido, desolado, encasulado,
Dependendo do tempo e do assoprar dos ventos para matizes respirar.
Observo com olhar desbotado, sépia.

Preciso cores germinar.

Não Ser

Querem que eu diga que não sei viver,
Digo que não sei.
Que eu acredite que não sou capaz,
Acredito que não sou.
Que nada sou.
Sou?

Submarino


Submergir do raso para o fundo.
Para longe do ficar ao acaso,
De braços bem dados,
Mergulhados com o profundo.
Banhar-me com águas-de-cheiro colhidas em jardins próximos aos corais mais coloridos.
Reconhecer que distante de mim,
Eu era desconhecido, seco, sozinho.
Catar conchinhas, pérolas e estrelas, no céu marino.
Pegar carona com golfinhos, pescar sereias, cavalgar cavalos marinhos.
Permissão a Netuno para ali enamorar.
Para bons fluídos, a benção de Iemanjá.
Ao emergir, afobado, sentir saudades das guelras que davam-me ares,
E, com isso, emarasmar.
Entediar-me. Em minha ilha me isolar.
Agora, mesmo que contra correntezas e marés,
A favor de minhas ondas, irei remar.
E, para reproduzir, rio acima irei nadar.
Gerar vivas nascentes, quentes cores refratar.
Dar um tempo da mesmice.
No subconsciente, de cabeça, mergulhar.
Fazer dos mares meu quintal, dos oceanos o meu lar.
De uma vez por todas e enfim emarar.
Mudar da superfície.
Me aprofundar no mar.
Meu desejo mora lá.
Quero namorar.
Quero lá morar.
Sumir um pouco da terra.
Ir no mar morar.



Boa Sorte

É só isso
Não tem mais jeito
Acabou, boa sorte

Não tenho o que dizer
São só palavras
E o que eu sinto
Não mudará

Tudo o que quer me dar
É demais
É pesado
Não há paz

Tudo o que quer de mim
Irreais
Expectativas
Desleais

Mesmo, se segure
Quero que se cure
Dessa pessoa
Que o aconselha

Há um desencontro
Veja por esse ponto
Há tantas pessoas especiais

Tudo o que quer me dar
É demais
É pesado
Não há paz

Tudo o que quer de mim
Irreais
Expectativas
Desleais

Vanessa da Mata

Renascer

Diferentes visões destorcidas desembaralham-se bem diantes dos meus olhos...
Sorvo novos ares por onde passo, agora, desapressado...
Outros detalhes, observações, olhares e pontos de vista, de partida e de chegada, de desconhecidas matizes apresentam-se, também para mim, aos quatro cantos, aos ventos.
Rebentos horinzontes escondidos. Trovas em Dós Sustenidos, gritos, gemidos, cores, brilhos, cios...
Tortos trilhos levam-me a incertos caminhos, desertos, recém-descobertos, por quais passo, paro e observo a vivida novidade.
Sou um novo homem, é tempo de despedida!!
Tchau, morte; Oi, Vida!!!

Às Avessas

Procuro em todo canto algo no tom certo para por no papel.
A inspiração está desaparecida.
Nos tempos de hoje, Ela não mais dá as caras com tanta facilidade.
Poucas coisas, à deriva, do todo produzido pelo homem, Dela derivam.
Todos os que escrevem, escrevemos desprovidos dela,
por uns remotos tempos presentes.
Ela se foi.
Foi-se.
Foice...
Hoje, é preciso obter de tudo, a qualquer preço.
Terceiriza-se até a pobre, coitada e desnutrida inspiração.
Assim e aos poucos sopros, ela se esvai, vai-se.
As poesias apenas têm palavras grafadas noutra ordem.
Nada querem dizer. Nada dizem.
Aliás, tudo querem dizer, contudo, tudo ao mesmo tempo,
Distingue-se nada e subentende-se que nada têm a dizer.
Não é culpa dos escritores.
A culpa é do estado atual do comportamento humano,
que não conseguindo viver a paz,
num pequeno planeta desses como a Terra, acabam por corroê-la, gelando a espinha e apertando o nó no pescoço da infeliz Inspiração.
Os sensacionalismos mais bárbaros, os preconceitos e a falta de liberdade, gritam juntos, por aí, em nossa mídia, espantando a inspiração dos observadores que, além da mera observação,
não conseguem impedir-se de escrever algo a respeito do que vêem, seja lá com que gênero for,
mesmo que algumas tortas e ébrias palavras de afeto ou desafeto.
Precisamos fazer alguma coisa! Criar algo. Afetar-se.
Procura-se a tão pouco aclamada inspiração.
Como recompensa, o sorriso e a emoção.
Nada de mais interessante, esses dois aí, têm a dizer mesmo.
Então que, ao menos, sirvam de mercadoria escambótica.
Causa revolta, causam revoltas.
Venha, me dê a sua mão, Querida.
Eu não consigo mais terminar nada do que faço.
Sempre deixo por fazer, pela metade ou para trás.
Não concluo nada.
Não fecho ciclos. Não construo ninhos.
Não desempenho minhas atividades físicas, profissionais e espirituais.
O despertador, quase sempre, nunca funciona.
Chego atrasado em meus compromissos.
Estou triste e caduco sem você.
Preciso te reencontrar.
Encontrar-me.
Cadê você, Inspiração?
Venha me abraçar.
Quero você.
Quero cantar.
Quero mais.
Quero ler, ser lido.
Gravar um curta.
Projetar um longa.
Ter um livro, escrever um filho.
Venha, eu te espero.
Como colírio aos meus olhos,
Você fará novo e nitidamente o meu enxergar.
Venha, nem que seja nos meus sonhos, me beijar.
Sinto saudades.
Quero você por perto.
Ainda é cedo, amor.
Quero tudo.
Quero tudo dizer.
Tenho tudo a dizer.
Todavia, não digo nada.
Algo está faltando.
Estou órfão.
Parece que só expiro.
Suspiro.
Fico mudo.
Às avessas.



Descoberta

Quando olho no espelho, é você quem vejo.
Ao tomar banho, é pra você que eu canto.
Só em pensar, vejo o teu cheiro.
Ao sorvê-lo, sinto todo o encanto.
Nesse exato momento, quero te dar um beijo.
E, em mim, você deve estar pensando.
Não tem essa de quem chegar primeiro.
A telepatia antecipa os planos.
Agora, mesmo que não queira,
No teu sangue estou rodando.
Percorrendo tuas veias,
Vendo por debaixo do pano.
Uma coisa é certa,
Pode escrever o que estou falando,
Eu, Renato, estou de boca aberta, viajando,
Mas meu cérebro, em alerta,
Pois, mesmo acordado, com você fica sonhando.
Fiz uma descoberta:
Creio que estou amando!

Fio

Às vezes,
Na vida,
Quase sempre nos perdemos em meio a dúvidas e pensamentos obscuros e, em neles mesmos, nos achamos.
Damos voltas no momento, pelo nada caminhamos.
Algo perdido dentro de nós, por toda parte, procuramos.
- Por acaso, você viu meu olhar por aí?!?
De repente perdido no olhar de alguma menina.
Jogado na sarjeta, tonto na esquina.
Soterrado no aterro, afogado na piscina.
Sei que neste primeiro instante, primeiro preciso me encontrar.
Por aí me achar.
Buscar sobre a terra o meu lugar ao Sol, ao Luar.
Alternando “estrelas” na noite, pulando de bar-em-bar.
Arrepio.
Rastro.
Sinto frio.
Embebedo de saudades minha alma.
Meu desespero entra no cio, perco a minha calma.
E como Carioca, morador do Rio, me pergunto como deve ser,à fundo, essa tão falada e aclamada maravilha.
Danço com o Cristo, cantarolo às tristes trilhas.
Sufoco aos novos ares, pelejo a minha sina.
Mas é certo que quem procura acha!
E balançando o meu corpo gingado pelas ladeiras e quebradas, carrego essa enorme e descolorida faixa, que trás entre aspas em Caps Lock e em negrito, um anúncio em que vem escrito:
- “Você viu o meu olhar por aí???”

Enloucrescer

A sociedade está infestada por preconceitos.
Sátiras, ironias, humilhações.
Coitadas pessoas à mercê de pragas disseminadas e contaminações.
Coitadas são, pois não têm a menor culpa nisso.
O inconsciente dita as ações, desde o início.
São meros joguetes da sorte.
Eles mordem e assopram uns aos outros, sorrindo,
Enquanto secam os decotes das esposas de seus amigos do peito.
Elas, falam mal dos maridos, fofocam, arrumam quaisquer defeitos.
Drogas, diferentes tipos de sexo e muito roque e rua,
Apresentam suas celebridades.
Personalidades horripilam-se, destacam-se.
Destoantes, em moinhos, embaralham-se.
Intérpretes, comediantes, palhaços,
Todo estereótipo surge, egocêntricos, no picadeiro.
A platéia delira.
Todo tipo de asneira se vê nessa hora, ora diz-se, ora escuta-se.
A intenção é azucrinar alguém, enquanto outros se riem,
Escancarando os dentes sem saberem bem ou mal o por quê.
Quase sempre não há graça real.
Ri-se dá desgraça.
Isso é um cruel sintoma do inconsciente coletivo.
Que leiam e estudem,
Aprendendo a corrigir propícias falhas próprias,
Derivadas do Inconsciente social dos últimos tempos,
Que de sempre se ridiculariza.
Melhorem.
Percebam.
Que plantem e colham fantasias.
Sorriam felizes de verdade.
Ganhem e dêem alegria, vivam-na.
Aceitem as diferenças e não idealizem-nas.
Não liguem-se apenas ao corpóreo, conscientizem-se.
Enxerguem as distintas matizes existentes e bem observem-nas a fundo.
Senão, ao menos, tenham cuidado ao tentarem alterá-las.
Respeitem-nas para que obtenha delas respeito.
Cada uma tem o seu tempo de aprendizado, de transformação.
Não se deve julgar ou criticar, mas observar e sugerir.
Realizem.
Aprendam.
Ensinem.
Evoluam.
Enloucresçam.

Procura-se

Em alguma esquina ou viela, na contramão,
Rio acima, à espera, à espreita,
Num canto, num beco, à margem, à beira,
Introspecto, encontro-me, de certa maneira,
Limpando de meu cérebro o mofo, a poeira,
Sacundindo meus ossos e
Redesvirando de cabeça-pra-baixo minha avessa cabeça,
À procura de minha paz.
Está por aqui, tem de estar.
Camuflada, escondida, sob destroços, dolorida, achada, perdida,
No meio do nada e mesmo que, de tudo um pouco, ferida,
Ela, contudo, por aqui deva estar, n’algum lugar.
Soube que ela queria se entregar, desistir.
Pular, sumir, fugir, se jogar, se partir, voar, ir.
Procurei, mas não a vi.
Se, por acaso, nela esbarrei,
Nem sequer senti.
Cadê você?
Está escuro.
Não lhe vejo.
Vem, segure firme a minha mão, amiga!
Você é minha.
Não vê isso não? Se liga!
Venha, vamos. Corra, querida!
Em minha vida quero, intensamente, usufruí-la.
Dar-te-hei flores, girassóis, um mar-de-rosas, margaridas.
O sol, o mar, oceanos, ilhas.
Às horas quero improvisar.
Nada de repetição.
Nada de dublê.
Quero ao vivo e à cores,
Numa fração do já,
Gozar o real prazer.
Experimentar paixões colhidas, na hora, do pé.
Sol brotando, passarinhos cantando, roça, mato,
Cheirinho fresco de café.
Observar, em contraponto e contrariado, que a moeda tem dois lados.
Sentir, na pele, os espasmos ao embeber absinto e ópio, mesclados,
Oferecidos com gosto e na bandeja, por sarcásticos.
Todavia, mesmo assim,
Nas frestas, na lama, na sargeta,
Continuar buscando.
Noutra casa, cidade ou planeta.
Em algum lugar creio que esteja.
Anseio acasalar com você,
Doce e almejada emoção.
Meu peito lhe pertence.
Meu cérebro,

hoje,
sobrevive em sua função.
Oh, paz!

Apaixonar-se

Doçura nos sabores.
Mistura de essências nos odores.
Sol, sombra, opacidade, cores.

Dos olhos do furacão brotam flores encimeiras.
Dos fartos pedúnculos, amores, fogueiras.
Tímidas, suas meninas fitam.
Nervosas, as minhas se agitam.
Meus poros por ela chamam, gritam.
Minhas palavras à boca ulceram, precipitam, as dela imitam.

Não sou mais dono de mim.
Não tenho mais vontades próprias.
Fui tomado de assalto.

Engraçado que deixo que seja assim.
Ao vento conto histórias.
Jogo versos para o alto.

Minha alma arrepiou.
Minha rima metrificou.
Meus pelos se eriçaram.

Meu coração se flechou.
Meu tempo parou.
Meus sentimentos se aclarearam.

Voltei a sentir saudades.
Escuto a voz do meu amor.
Encontrei minha outra metade.
O meu Eu se apaixonou.

Mais!!

A gente pode morar numa casa mais ou menos, numa rua mais ou menos, numa cidade mais ou menos, e até ter um governo mais ou menos. A gente pode dormir numa cama mais ou menos, comer um feijão mais ou menos, ter um transporte mais ou menos e até ser obrigado a acreditar mais ou menos no futuro. A gente pode olhar em volta e sentir que tudo está mais ou menos. Tudo bem! O que a gente não pode mesmo, nunca, de jeito nenhum é amar mais ou menos, sonhar mais ou menos, ser amigo mais ou menos, namorar mais ou menos, ter fé mais ou menos e acreditar mais ou menos... Senão, a gente corre o risco de se tornar uma pessoa mais ou menos.

Chico Xavier

Sonho

Sonhei alto, levitei.
Flertei com a Deusa do Amor.
Na cama de nuvens, de Vênus, me deitei.
Com seu aroma,
Fragrância emanada dos poros, flutuei.
Com o sabor,
Combinação única de desejos, insaciável me lambuzei.
Com sua pele junto a minha, ingenuamente, arrepiei.
Jamais havia visto tantas belezas juntas numa mesma mulher,
Em toda a face da terra.
Será Sonho?
Verdade??
Ou Meia-Noite-Cinderela???



Vislumbre de um universitário desempregado

Um tempo em que se seja realmente feliz.
Crianças brincando, amigos do peito, verdades, reciprocidades.
Um tempo em que homens respeitassem e procurassem ajudar uns aos outros, para, assim, terem por quem ser ajudados e respeitados.
Em que sentimentos gerados e ligados à má formação social imposta por falhas estruturais governamentais, se escafedessem. Onde professores, formadores e orientadores tivessem o devido e assistido cuidado com os seus alunos, seus homens, procurando conhecer a cor dos olhos de cada um – formar não é castrar, dar bronca, expulsar de sala, excluir. Formar é, sim, interagir, comunicar-se, conversar, expressar-se, ouvir e ser ouvido, ser, mudar-se, transformar-se. Formar é, antes de tudo, ensinar e aprender. É, sobretudo, ensinar a aprender.
Diálogos há de existir a essa época, é a que almejo.
Época em que chefes tratassem com dignidade os seus empregados, obtendo, assim, mais ritmo, confiança e empenho por parte deles.
Na qual existirá uma capaz mídia, que tratará a informação com mais cuidado, sem ficar abusando da falta de coerência com a realidade, em sensacionalistas e fétidas matérias cruas que estampam, hoje, capas e páginas dos principais veículos de comunicação impressa e virtual, pronunciando-se repetidamente, por semanais décadas, pelas carrancudas bocas dubladas de engravatados teleapresentadores, caixas pretas mundo vasto à fora. Vasto mundo alienado.
Há de chegar o momento em que a mínima assistência será prestada e discutir-se-á políticas públicas com seriedade, verdade e envolvimento pelos meios de comunicação, refletindo, a partir daí, repercussões em toda a sociedade à qual essa comunicação procurar incutir inteligência. A comunicação, numa sociedade, é fundamental, sua falha, abismal.
Tempos que voltarão a ser áureos se aproximam.
Hoje, ainda vê-se como poesia, delírio, ficção ou fantasia, todavia, sinto aproximar.
Sou, então, um poeta delirante, um fictício ser fantástico, um mero personagem querendo isso praticar.
Que não quer morrer sem ao menos tentar algo mudar.
Se a transformação e a inteligência são do ser humano, como se sabe, logo, o que falta é usarmos essa inteligência de forma correta a transformar a realidade, a colori-la.
Fazer isso virar manchete.
Primeira página, largas colunas, novelas, esquetes.
Façam o que quer que forem fazer, mas bem feito o façam.
Com cores, amores, verdadeiros traços. Não continuando preenchendo os mesmos espaços ocupados por preconceitos, ironias e deboches clichês. Originalizem-se. Criem. Plantem sua semente.
Vivam para o bem e o bem morará realmente em seus leitos,
natural e consequentemente.Hoje estou desempregado, amanhã de repente...